ORIGEM
Identidade portuguesa e construção
simbólica
No dia 21 de abril
de 1898, um grupo de 62 cidadãos, formado por
portugueses e luso-descendentes, assinou a ata
de fundação do Club de Regatas Vasco da Gama. A
princípio, parecia apenas mais um dentre tantos
clubes dedicados à prática do remo, esporte mais
popular daquela época, a surgir no Rio de
Janeiro, na virada do século XIX para o século
XX. Porém, nem o mais otimista daqueles homens
reunidos no Clube Dramáticos Filhos de Talma,
situado à Rua da Saúde, 293 poderia
imaginar que a instituição por eles criada como
uma forma de lazer para as horas vagas
ultrapassasse a marca dos cem anos, vindo a se
tornar internacionalmente conhecida graças a uma
modalidade esportiva da qual provavelmente
nenhum deles ouvira falar anteriormente: o
futebol.
De início, muitos
foram os símbolos escolhidos para representar a
recém-criada agremiação. Todos eles com o
intuito de reforçar ainda mais o seu vínculo com
Portugal e com o remo, suas principais
referências e identidades próprias. O nome Vasco
da Gama foi escolhido como uma forma de
homenagear o quarto centenário da viagem de
descoberta do caminho marítimo às Índias
empreendidas pelo famoso navegador lusitano,
comemorado em 1898, ano de fundação do clube.
Essa designação, sem dúvida, parecia ser mais
apropriada para simbolizar uma instituição
ligada à colônia portuguesa, cujo interesse
esportivo inicial ligava-se às regatas
disputadas nas águas da Enseada de Botafogo, na
Baía de Guanabara.
Não somente a
denominação da agremiação unia-a a colônia
portuguesa. A adoção de outros símbolos, alguns
deles de modo equivocado, reforçou ainda mais
essa identidade portuguesa herdada pelo clube
desde a época de sua fundação. Talvez o símbolo
vascaíno mais conhecido por parte do grande
público seja a “Cruz de Malta”. Tal designação,
na verdade, é fruto de um erro histórico. O
verdadeiro nome da cruz presente no escudo,
bandeira e uniforme vascaínos é Cruz Patée, ou
Pátea. Entretanto, os fundadores do clube
cometeram um segundo equívoco ao escolhê-la para
simbolizar a façanha do navegador Vasco da Gama,
pois, desde o século XIV, por ordem do rei D.
Dinis, a cruz que as naus portuguesas portavam
era a Cruz de Cristo.
Em relação à sua
origem, não foi apenas o fato de ter sido desde
o início um clube ligado à colônia portuguesa
que distinguiu o Vasco da Gama dos seus atuais
rivais. De acordo com Mattos (1997), o Vasco da
Gama, diferentemente de clubes como Flamengo,
Fluminense e Botafogo, não contou com a
participação de membros pertencentes à elite
residente na zona sul carioca, sendo composto
principalmente por “comerciantes ou assalariados
portugueses que viviam na zona norte ou nos
subúrbios”.
Entretanto, não
tardou para que surgissem os primeiros
obstáculos a serem enfrentados pela recém-criada
agremiação. Em pouco tempo, disputas internas
levaram o clube a sofrer uma cisão em 1899.
Houve a renúncia do primeiro presidente do
clube, Francisco Gonçalves do Couto Júnior,
que, descontente com alguns entraves na mudança
do barracão onde eram guardadas as embarcações,
o ex-presidente fundou o Clube de Regatas
Guanabara, levando consigo boa parte dos
associados do Vasco da Gama.
O forte vínculo
inicial com Portugal pode ser percebido ao
analisarmos o caso do naufrágio, em 1902, da
baleeira de 12 remos Vascaína, que resultou na
morte de três remadores. Os outros nove, foram
salvos por dois pescadores e um menino que
receberam o título de sócios do clube, além de
uma condecoração por bravura, de um
representante do rei de Portugal, D. Carlos
(PLACAR, s/d. p.p.25-27).
Em 1904, o clube
viria a dar uma amostra do seu caráter social
pioneiro ao eleger como presidente Candido José
de Araújo, o primeiro negro a exercer tal cargo
em uma agremiação esportiva carioca (MALHANO,
2002, p.60).
A conquista do
primeiro campeonato carioca de remo viria
somente em 1905. Nessa mesma época, começava a
ganhar corpo na capital federal, ainda com ares
de novidade, um esporte trazido da Europa, que,
já há algum tempo, fazia sucesso em São Paulo.
Não tardou para que o futebol tomasse de assalto
o Rio de Janeiro, e a colônia portuguesa não
poderia ficar de fora desta nova modalidade
esportiva.
HISTÓRIA DO CLUBE
No final do
século XIX, o
remo era o esporte mais popular do
Rio de Janeiro. Ainda que o
ciclismo também fosse popular, o
esporte de maior prestígio entre os comerciários
da época era o remo, já que as
bicicletas comportavam muitos custos.
Quatro jovens, Henrique Ferreira
Monteiro, Luís Antônio Rodrigues, José Alexandre
de Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Sousa
Júnior, reuniam-se e remavam todos os finais de
semana no
Clube de Regatas Gragoatá, em
Niterói. Moradores da cidade do
Rio de Janeiro e cansados de terem
que viajar até Niterói para praticarem seu
esporte favorito, decidiram fundar um novo clube
de regatas na cidade e logo conseguiriam mais
adeptos à idéia.
A primeira reunião para traçar os
planos para a fundação de um clube de remo
realizou-se no número 80 da rua Teófilo Otoni.
Uma semana depois, no dia
21 de agosto de
1898, houve nova reunião, presidida
por Gaspar de Castro. Dessa vez foi fundado o
Club de Regatas Vasco da Gama, com um grupo
formado então por 62 remadores, quase todos
portugueses, em uma sala da Sociedade
Dramática Filhos de Talma, na Rua da Saúde 293,
que viria a ser a primeira sede social do clube.
Nesta ocasião, foi eleito presidente Francisco
Gonçalves do Couto Jr., comerciante dos bairros
da
Saúde e
Botafogo, com 41 votos. A ata de
fundação registrava:
|
"Aos 21 dias
do mês de Agosto de 1898, as
2:30 horas da tarde,
reunidos na sala do prédio
da Rua da Saúde numero 293
os senhores constantes do
livro de presenças, assumiu
a presidência o Sr. Gaspar
de Castro e depois de
convidar para ocuparem as
cadeiras de secretários os
senhores Virgílio Carvalho
do Amaral como 1o. e
Henrique Ferreira como 2o.,
declarou que a presente
reunião tinha o fito de
fundar-se nesta Capital da
Republica dos Estados Unidos
do Brasil, uma associação
com o titulo de Club de
Regatas Vasco da Gama (…)"
|
Inicio no remo
Com dois meses de existência o
clube já contava com 250 sócios, o suficiente
para solicitar para disputa dos campeonatos de
remo. Assim, no dia
7 de novembro, o Vasco solicitava a
sua inscrição oficial na União de Regatas
Fluminense e, ao mesmo tempo, conhecia as cores
do seu uniforme: camisa
preta, com uma faixa
branca sobre o peito e a Cruz de
Cristo ao centro. A Cruz, a mesma que levou a
bênção cristã aos povos da
Índia, a faixa branca simbolizando o
estandarte que
Vasco da Gama recebeu de
D. Manuel, o Venturoso, e a camisa
negra representando os mares obscuros navegados
pelas caravelas do navegador.
O Vasco, para iniciar nas
competições, comprou 3 barcos: Zoca,
canoa de quatro remos; Vaidosa,
baleeira de quatro remos; e Volúvel,
baleeira de seis remos. Todas em madeira de
cedro, ficavam guardadas numa garagem localizada
na Travessa Maia, que mais tarde seria extinta
dando lugar à
Avenida Rio Branco. A estréia oficial
em competições aconteceu no dia
13 de novembro de
1898.
A primeira vitória viria no ano
seguinte, no dia
4 de junho de
1899, com Volúvel, na classe Novos,
no páreo denominado Vasco da gama, em homenagem
ao clube. A guarnição vencedora era formada por
Adriano Vieira (patrão), José Freitas, José
Cunha, José Pereira, Joaquim Campos, Antônio
Frazão e Carlos Rodrigues.
No mesmo ano o clube quase
acabaria fechando devida a uma polêmica
levantada pelo presidente Francisco Gonçalves do
Couto Junior, que pretendia levar a sede para a
Praia de Botafogo. Gonçalves acabaria
renunciando e fundando o clube C. R. Guanabara,
levando para este a maioria dos associados
vascaínos.[4]
Francisco Gonçalves, contudo, acabaria voltando
a presidência do Vasco em 1901.
O ano de
1900 foi um marco na histórica
rivalidade com o
Flamengo. No primeiro páreo da
história do
remo
brasileiro, chamado Club de Regatas
Flamengo', a embarcação vascaína 'Visão' foi a
vencedora. Ainda nesse ano houve a mudança para
a primeira sede própria: um barracão na Ilha das
Moças.
No dia
18 de maio de
1902, uma tragédia: a
baleeira Vascaína, de doze remos,
comprada em
1900, que rumava a
Icaraí, virou devido a uma forte
ventania, morrendo afogados três remadores.
Outros nove foram salvos pelos pescadores José
Joaquim de Aguiar Moreno, Antônio Silveira e o
menino Martins de Barros, todos condecorados por
bravura, pelo representante do rei de
Portugal,
D. Carlos. Todos eles ganharam
títulos de sócios honorários do clube. Faleceram
os remadores Luís Ferreira de Carvalho,
Teodorico Lopes, José Pinto e Lourenço Seguro,
os dois primeiros comerciários e os últimos
comerciantes.
Desde o início, o Vasco se
afirmou como um clube que romperia com a herança
racista herdada dos tempos da escravidão. Já em
1904, os sócios do clube, numa
atitude inédita até então nos clubes esportivos
brasileiros, elegeram um mulato para a
presidência, Cândido José de Araújo, que foi
reeleito para o cargo em
1905.
Em 1905 o Vasco ganha seu
primeiro campeonato de
remo. O título inédito veio com cinco
vitórias e dois segundo lugares, com os barcos "Procellaria"
(3 vitórias), "Açor" (1 vitória), "Voga"
(1 vitória), "Gladiador" (1 segundo
lugar) e "Albatroz" (1 segundo lugar).
O troféu foi dado pelo
Presidente da República da época,
Rodrigues Alves.
Ampliação
Na
década de 1910, o Vasco começa a
ampliar suas atividades e passa a disputar
campeonatos de
tiro. Nessa modalidade viria a
conquistar diversos títulos durante toda a
década.
Na mesma década, o
futebol começa a se popularizar na
cidade do
Rio de Janeiro e, em
1913, o
Botafogo, que inaugurava o seu campo
de
General Severiano, trouxe como
convidado o combinado português formado por
jogadores do Clube Internacional,
Sporting Clube de Lisboa e
Sport Clube Império. A vinda do
combinado português animou a colônia portuguesa,
e foram fundados clubes de inspiração lusitana:
o Luso, o Centro Português de Desportos e o
Lusitânia F.C.
Alguns sócios do Vasco, também
animados com o combinado, buscaram uma fusão com
o Lusitânia, para a criação do futebol do Vasco.
O Lusitânia resistiu, pois seu estatuto o
definia como um clube "apenas para portugueses",
ao contrário do Vasco, que surgira para unir
"sob a mesma bandeira irmãos de diferentes
raças".
A fusão, porém, era inevitável.
Isso, porque a norma da Liga Metropolitana de
Sports Athleticos (LMSA), que gerenciava o
futebol carioca, só permitia a participação em
seus quadros clubes que tinham ao mínimo um
brasileiro.
Por isso, em
26 de novembro de
1915, o Vasco e o Lusitânia aprovaram
finalmente uma fusão, passando o Vasco a incluir
também o futebol em suas atividades. Para se
filiar, o clube teve que fazer uma coleta entre
seus associados para conseguir os 500 mil-réis
necessários para se tornar membro da LMSA.
Finalmente o Vasco estreou seu
time na terceira divisão, no dia
3 de maio de
1916, sofrendo uma terrível goleada
de 10x1 para o Paladino F.C. O primeiro gol da
história do Vasco foi marcado por
Adão Antônio Brandão. A primeira
vitória ocorreu em
29 de outubro de 1916, 2 a 1 sobre a
Associação Atlética River São Bento, partida
válida pela terceira divisão.
Em
1917, a LMSA foi reformada, passando
a se chamar Liga Metropolitana de Desportos
Terrestres (LMDT) e ampliou o número de
participantes, passando o Vasco para a segunda
divisão. Em
1920 venceu a segunda divisão,
passando a disputar a série B da primeira
divisão.
Em
1922, ainda sem campo próprio, aluga
um estádio na rua Morais e Silva, na
Tijuca. Vence o campeonato da série B
nas três categorias, conquistando a Taça
Constantino. O jogo decisivo para a subida para
o grupo A foi disputado em
17 de julho de 1922, quando o Vasco
goleou o Carioca por 8 a 3. Finalmente o Vasco
partia para o grupo de elite do futebol carioca.
Em 1921 o Vasco voltou a
conquistar o campeonato carioca de remo.
Primeira Divisão
Em
1923, inicia-se na elite da primeira
divisão do futebol. O primeiro jogo foi um
empate em 1 a 1 com o Andaraí. Logo depois o
Vasco surpreenderia, vencendo o
Botafogo por 3 a 1, fato que era
inadmissível para os rivais, visto que o time
vascaíno era composto inteiramente por negros,
trabalhadores simples e nordestinos. A presença
negra no time do Vasco começava no gol. Formavam
o time o goleiro Nelson Conceição, Ceci e
Nicolino, além de outros negros e mulatos.
Surge então a guerra contra o
Vasco, que passou a ser acusado de ter um time
de profissionais.
Nada fica provado e o Vasco segue
no campeonato. Na terceira rodada do returno,
porém, o
Flamengo vence por 3 a 2, com o
árbitro anulando um gol legítimo do Vasco. O
árbitro da partida era Carlito Rocha, que pouco
tempo mais tarde se tornaria o presidente do
Botafogo.
Mesmo assim, lutando contra os
clubes unidos contra ele, o Vasco venceu o
América e o
Fluminense, conquistando o campeonato
no dia
12 de agosto de 1923, derrotando o
São Cristóvão por 3 a 2, no campo de
General Severiano.
Os clubes da "elite" não
suportaram ver seus times sendo derrotados por
um time formado por negros e pobres, e que nem
estádio possuía. Vieram as acusações de falta de
profissionalismo e a alegação de que analfabetos
não poderiam atuar. Assim, o Vasco pagava a
professores para ensinar seus jogadores a
assinar a
súmula das partidas.
Os camisas pretas -
apelidado dado aos jogadores vascaínos por causa
do seu uniforme, foram ganhando partida por
partida, sempre virando o placar no segundo
tempo, devido ao ótimo preparo físico dos
jogadores, até ganhar o campeonato.
No ano seguinte, os clubes da
zona sul (área de elite da cidade do
Rio de Janeiro), Botafogo, Flamengo,
Fluminense e alguns outros clubes se uniram e
abandonaram a Liga Metropolitana de Desportos
Terrestres (LMDT) e fundaram a Associação
Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA),
deixando de fora o Vasco.
Depois, impuseram a condição de
que o Vasco, para se filiar à nova entidade,
AMEA, deveria dispensar doze de seus atletas
(todos negros) sob a acusação de que teriam
"profissão duvidosa". Diante da situação
imposta, em 1924, o presidente do Club de
Regatas Vasco da Gama, José Augusto Prestes,
enviou uma carta à AMEA, que veio a ser
conhecida como a "resposta histórica", recusando
a se submeter à condição imposta e desistindo de
filiar-se a AMEA.
Com a recusa, o Vasco permaneceu
na LMDT, conquistando o bicampeonato de forma
invicta. O último jogo foi Vasco 1 a 0
Bonsucesso, realizado no campo da rua
Prefeito Serzedelo, no Andaraí.
Em 1925, o Vasco foi admitido na
AMEA, graças ao apoio de Carlito Rocha (o mesmo
árbitro que anulara o gol do Vasco em 1923),
então presidente do
Botafogo, que soube vencer as
resistências internas na AMEA. Para ser
admitido, o Vasco aceitou sediar os seus jogos
no campo do Andaraí, na rua Barão de São
Francisco, onde hoje está o shopping Iguatemi.
Apesar disso, o Vasco decidiu
construir o seu próprio estádio, para acabar com
qualquer exigência da entidade. O local
escolhido para a construção foi a chácara de São
Januário, que fora um presente de
Dom Pedro I à
Marquesa de Santos.
Em
21 de abril de
1927, o Vasco inaugura o então maior
estádio do Brasil, perdendo para o
Santos por 5 a 3. A construção do
estádio durou dez meses e o dinheiro para a obra
foi arrecadado por uma campanha de recolhimento
de donativos de torcedores de toda a cidade. No
ano seguinte são inaugurados os refletores do
estádio, no que foi o terceiro jogo noturno a
ser realizado no
Brasil e a primeira partida
internacional do Vasco.[9]
Em
1929 o Vasco inaugurou a iluminação
do estádio, passando a ser o primeiro estádio do
Brasil com capacidade de realizar jogos
noturnos. Ainda em 1929, o Vasco conquistou os
campeonatos no remo e no futebol, tornando-se "Campeão
de Terra e Mar".
Anos 30
No primeiro
carioca da decáda, o Vasco acabou
sendo tirado da disputa pelo título num jogo
contra o Syrio e Libanez, do zagueiro Aragão,
que usou uma chuteira com chapas de aço no bico.
Apesar do fato ter sido descoberto, o jogo não
foi impugnado e os camisas pretas ficaram de
fora da disputa pela taça.
Para compensar os vascaínos,
naquele ano o time impôs a maior goleada já
sofrida pelo
Fluminense: 6x0.
Em 1931, novamente o clube chegou
perto do título. Na última rodada, com um ponto
de vantagem sobre o
América, o time perdeu de 3x0 para o
Botafogo, enquanto o América vencia
por 3 a 1 o
Bonsucesso, garantindo a taça. Neste
campeonato, mais uma goleada histórica: 7x0
sobre o rival
Flamengo, maior derrota que o clube
rubro-negro já sofreu em sua história.
Depois do campeonato, o Vasco se
tornou o segundo time brasileiro a ser convidado
para uma excursão internacional (o
Paulistano foi o primeiro). Os países
eram
Espanha e
Portugal. Foram 12 partidas, oito
vitórias, um empate e três derrotas, sendo
marcados 45 gols pró e 18 contra.
As conseqüências da bela exibição
vieram logo após:
Fausto
e
Jaguaré foram contratados pelo
Barcelona, um dos times que jogaram
contra o Vasco.
Em 1933, uma velha polêmica
voltava a se acender no país: a discussão sobre
o profissionalismo do esporte. A Confederação
Brasileira de Desportos (C.B.D, atual
C.B.F), defendia o amadorismo, enquanto
a maioria dos clubes insistia na
profissionalização.Por causa dessas
divergências, foi criada a Liga Carioca de
Futebol. A única exceção entre os grandes
foi o Botafogo, que decidiu continuar na AMEA.
No mesmo ano Vasco e América realizaram a
primeira partida profissional do
Estado do Rio de Janeiro e a segunda
do país, com vitória vascaína por 2 a 1.
O autor do primeiro gol
profissional do estado foi marcado por Francisco
de Souza Ferreira, mais conhecido como Gradim,
que mais tarde viria a ser técnico do Vasco e
também o responsável pela vinda de
Roberto Dinamite, maior ídolo
vascaíno, as categorias de base do clube.
Em 1934, o Vasco, com um elenco
cheio de craques, como
Leônidas da Silva,
Domingos da Guia,
Fausto
(voltando do Barcelona),
Itália e outros, ganhou novamente o
carioca. O fato de maior importância
naquele ano, porém, foi outro.
Por causa de uma briga com o
Flamengo, o Vasco abandonou a liga e criou com o
Botafogo a Federação Metropolitana
de Desportos (F.M.D). Ironia que, o time que
tanta lutara para a profissionalização do
esporte, mudasse de lado e apoiasse a nova liga,
que era filiada à C.B.D, defensora do
amadorismo.
A reconciliação entre os clubes
cariocas só ocorreria em 1937 quando, graças a
iniciativa de Pedro Pereira Novaes e Pedro
Magalhães Corrêa, respectivamente presidentes de
Vasco e América, foi criada a Liga de
Football do Rio de Janeiro, unindo todos os
clubes cariocas. Para comemorar o fato, os dois
times se enfrentaram dentro de campo no dia 31
de Julho, com renda recorde. Por esse fato o
jogo entre os dois passou a ser chamado de "Clássico
da Paz".
Era Vargas e o Expresso da Vitória
Durante a gestão do presidente
Getúlio Vargas, o mesmo costumava
realizar no
estádio de São Januário, então o
maior do Rio de Janeiro, seus principais
discursos.
No ano de 1940, o Vasco
conquistou a Taça Luís Aranha, disputada com o
San Lorenzo e o
Independiente, ambos da
Argentina. Depois desse título, o
time passou um considerável tempo sem conquistar
nada, até a formação de um grande time: o "Expresso
da Vitória", uma equipe quase
imbatível na época. Tamanho foi seu sucesso, que
o Vasco utilizou um time B, chamado expressinho,
para excursionar pelo Brasil. O apelido teria
surgido em um programa de calouros da
Rádio Nacional, onde um calouro
dedicou sua música ao clube e o chamou por esse
apelido.
O Expresso começou a se formar
quando a diretoria contratou o técnico uruguaio
Ondino Vieira para acabar com o jejum de
títulos. Vieira chamou para o elenco vascaíno
jovens e desconhecidos jogadores, como Augusto,
Eli, Danilo,
Ademir, Lelé, Isaías e Jair. Com
esses, foi formado a base do Expresso.
O Vasco então voltou a conseguir
resultados expressivos. Em 1944 venceu o Torneio
Relâmpago superando os cinco grandes da época
(Flamengo, Fluminense, América e Botafogo). Em
seguida, ganhou o Torneio Municipal, contra os
mesmo clubes e outros do Rio de Janeiro.
No Carioca do ano seguinte, um
verdadeiro show. Diversas goleadas (como os 9 a
0 no
Bonsucesso, maior goleada do
campeonato) e um empate em 2 a 2 com o Flamengo
foram suficientes para o título invicto.
Em 1946, uma grave perda: Ademir
ira para o Fluminense. E como Gentil Cardoso,
técnico tricolor falara, "Dêem-me Ademir que
lhes dou o campeonato", o Fluminense
realmente ficou com o Carioca daquele ano. Para
compensar os vascaínos, o clube conquistou
novamente o Torneio Relâmpago e o Torneio
Municipal.
Em 1947, o Vasco formou um ataque
de espantar: Djalma, Maneca, Friaça, Lelé e
Chico. Foram 40 gols em apenas 10 partidas, e 68
no total, em vinte partidas. O time também impôs
a maior goleada da fase profissional do futebol
carioca: 14 a 1 no Canto do Rio. O Vasco ficou
então novamente o título invicto, sete pontos à
frente do segundo colocado, o Botafogo.
Em 1948, Ademir voltava ao time.
Neste ano o Vasco foi convidado a participar,
como campeão estadual, do
Campeonato Sul-Americano de Campeões.
Além do Vasco, estavam lá grandes potências da
época, como o temido
River Plate de
Di Stéfano, apelidado na Argentina de
La Maquina (A Máquina) e favorito ao
título, além de Nacional do Uruguai e
Colo-Colo do
Chile.
Depois de quatro vitórias e um
empate, o último jogo seria contra o River Plate.
Um empate bastaria para o Vasco, que não tinha
Ademir, que se machucara no primeiro jogo do
torneio. Foi uma partida nervosa. O goleiro
Barbosa brilhou mais uma vez, defendendo um
pênalti do
argentino Labruna no final da
partida. O juiz ainda anulou no primeiro tempo um
gol legítimo vascaíno. Partida terminada, o
Vasco empatava em 0x0 e era campeão
Sul-Americano, o maior título do clube até a
conquista da
Libertadores em
1998.
Em
1949, mais um ano de alegrias.
Heleno de Freitas vinha para o ataque
vascaíno, que produziu várias goleadas no
estadual. Foram 84 gols em vinte partidas, um
recorde para a época. O grande rival Flamengo,
que desde
1944 não ganhava do Vasco, voltou a
sofrer com o time da colina. Em plena Gávea os
rubro negros fizeram 2x0 e já davam como certa a
vitória. O Vasco, porém, voltou arrasador no
segundo tempo e virou o placar para 5 a 2.
No final, mais um título invicto,
o quarto do Vasco.
A
respeito do Expresso da Vitória você
encontra
aqui.
Fonte:
Wilkipédia